14/08/2020 | Por Taylon Moro
Meus caros,
Aqui fala um torcedor palmeirense que acompanha modestamente o time cerca de 18h/dia. Modestamente é modéstia, o que nenhum palmeirense possui. Desde sempre, sabemos que o palestrino, como nenhum outro, nunca parece contente. É amendoim para cá, corneta para lá, e nunca há a impressão de satisfação plena. Mesmo com o início de um ciclo vitorioso, a partir de 2015, sempre houve espaço para que a insatisfação se propagasse pelas alamedas da Turiassú. Vou ser direto.
Há algumas semanas, perdemos Dudu. Mais que o símbolo de retomada do domínio do clube no cenário nacional, com a conquista de títulos, Dudu foi a referência técnica de um time por 5 anos. O fato é nítido em qualquer lugar que olharmos. Nas horas decisivas do jogo, a bola iria para quem? Dudu. O jogador mais premiado atuando em território brasileiro nos últimos anos foi quem? Eduardo Pereira Rodrigues. Quem liderou estatísticas envolvendo a criação de jogadas nesse tempo todo? O pai do Cauê e do Pedro.
Certo, Dudu saiu. Um dia voltará. Águas passadas (e futuras). Façamos um breve exercício. Os jogadores não são máquinas, obviamente. Há muitos aspectos no jogo que evidenciam a relevância do fator mental. Mas pensemos por um breve momento. Se possuo uma empresa referência no mercado e perco meu funcionário mais criativo e com a produtividade recorde, tenho que dar um jeito, correr atrás e tomar providências. Das duas, uma: ou os outros funcionários crescem para compensar a lacuna deixada, buscando trabalhar com determinação e se capacitando; ou preciso procurar alguém no mercado que possa suprir essa lacuna, e não deixar que seu negócio capengue e perca posições em sua área de atuação.
Voltemos ao Palmeiras. Aparentemente, jogadores criativos não faltam do meio para a frente. Lucas Lima, Raphael Veiga, Gustavo Scarpa e Rony em algum momento de suas carreiras foram destaques nos times em que passaram, liderando suas equipes em momentos importantes de competições. No entanto, no Palmeiras tiveram apenas lampejos de boas aparições passadas. Já é clichê que o melhor meia sempre é aquele que está no banco, entra e faz algo diferente (que sobrepõe minimamente a apatia inicial do titular). Por questões técnicas, táticas e de ânimo, mesmo que o coletivo engrene com alguns garotos, é visível que nenhum conseguirá compensar à altura a lacuna de Dudu em momentos chave, quando é preciso matar a bola no peito e decidir as partidas.
Vanderlei Luxemburgo veio em uma missão para o Palmeiras. A política de contratações desenfreadas empregada pela direção de futebol anterior escafedeu-se e o lema agora é a austeridade. Por isso, o objetivo traçado desde o início do ano foi de aproveitar os talentos em potencial da base e buscar resgatar o futebol de parte de nosso elenco com contratações pontuais como Viña e Rony. Contudo, por mais que peças como Patrick de Paula, Gabriel Menino, Zé Rafael e Ramires tenham tido bons momentos, parece que o que temos não é suficiente, principalmente em relação a criação de jogadas no terço final do campo. A questão reflete em Luxemburgo, que treinou aqui craques como Edílson, Djalminha, Rivaldo, Alex e Valdívia, fazendo com que a ausência de um armador de elite exponha muitas deficiências da equipe.
A circulação da bola é lenta, as decisões tomadas em sua maioria são ruins e Luís Adriano agoniza por não ser acionado. Por isso, buscarei, ao longo do texto, apresentar algumas opções no mercado, dentro da realidade do clube, que possam chegar e agregar para o time dentro da proposta definida por Luxemburgo no setor de criação pelo meio e pelos lados do campo. Para isso, deve haver a definição de negociar alguns jogadores para que o elenco seja mais enxuto e com maior rendimento.
Cotado para sair da equipe do River Plate, onde foi campeão da Libertadores em 2018, e assediado por clubes brasileiros (Inter e Galo), Nacho seria peça para vestir a camisa e assumir o meio-campo do Palmeiras. Mesmo com 30 anos atualmente, não sendo nenhum garoto, atuou muito bem nas últimas 2 temporadas pelo clube argentino, chegando ao seu auge e sendo o principal armador do time na ausência de Juan Quintero, com histórico de lesão.
De 2019 para cá, incluindo o campeonato argentino e a Taça Libertadores, o meio-campo registrou 11 gols e 11 assistências em 38 jogos, com a média de uma participação em gol a cada 2 jogos. Sua capacidade criativa é evidenciada também pelo número de 2 passes/finalização por jogo, fazendo a bola girar entre o meio e ataque e assistindo os atacantes. Além disso, tem bom drible curto para sair da marcação com sua canhota e é versátil para atuar mais recuado ou como um legítimo 10.
Mesmo que seus tenham sido inconstantes em 2017/18, podemos dizer que o jogador chegou em sua maturidade nos últimos anos, retomando a pinta de quando atuava no Gimnasia y Esgrima. Sua contratação junto ao River Plate não é tão simples pelos valores e pela concorrência de outras ligas, mas seria importante tanto pela questão do retorno técnico para 2 ou 3 anos, quanto para ter um nome experiente e vencedor na composição do elenco.
Confira aqui as jogadas de Nacho Fernández.
O atleta é um dos nomes mais promissores da geração sub-23 colombiana. Foi vendido muito cedo ao futebol europeu e lá não conseguiu se firmar como poderia, muito por conta do comportamento e da falta de adaptação ao jogo coletivo das equipes por onde passou, podendo melhorar no aspecto defensivo. Porém, tecnicamente, é um grande jogador e que poderia se encaixar muito bem na posição de camisa 10 ou ainda atuando do lado esquerdo, com total liberdade, com a camisa alviverde.
Após a passagem pela Europa, retornou ao futebol sul-americano em empréstimo ao River Plate, onde foi exercida a opção de compra em janeiro/2020 por 2 milhões de euros. No River, não conseguiu alcançar a titularidade ainda devido à concorrência na meia ofensiva com nomes como Nicolás de la Cruz, Ignácio Fernández e Juan Quintero, todos destaques em 2018 e 2019. Nos últimos 10 jogos, entre titularidades e entradas no decorrer do jogo, somou 3 gols e 1 assistência, com média de 1,8 passes para finalização/jogo.
Carrascal também é considerado como um jogador ágil e imprevisível, tendo o drible e a jogada individual como chave para fazer a equipe progredir em campo. Nesses 10 jogos, registrou cerca de 2,6 dribles por jogo, com mais de 60% de aproveitamento, fato que mostra sua qualidade nesse quesito. Sua negociação não é tão simples, já que possui multa de 20 milhões de € e é cobiçado por times europeus, além de envolver um grande time argentino e também o desejo do jogador de se transferir para o futebol brasileiro. Se fosse concretizada, penso que com sequência e confiança, poderia amadurecer e fazer a diferença na equipe palestrina.
Confira aqui as jogadas de Jorge Carrascal.
Revelado pelo Defensor em 2014, o uruguaio está no futebol mexicano desde 2016. Foi no Santos Laguna, clube que defende desde 2017, que mais se destacou. Desde 2019, contribuiu com 12 gols e 10 assistências em 27 jogos pela liga MX, sendo responsável por cerca de 40% dos gols da equipe. Por ser bastante acionado, buscando a jogada vertical, tem cerca de 2,6 dribles/jogo, com 57% de aproveitamento. O lado ruim é que, por conta disso, soma 18 perdas de bola/ jogo, número comparável ao de Dudu.
É um jogador especialista no último passe, com boa capacidade de criação (2,3 passes decisivos/jogo), podendo atuar com liberdade pelos lados do campo ou como meia-ofensivo. Comprado por 1,4 milhões de euros pelo Santos Laguna, se valorizou nos últimos anos, sendo sondado pelo Porto, e sua transferência envolveria mais de 5 milhões de euros certamente, além do desejo do atleta de sair da liga mexicana, que tem se tornado cada dia mais competitiva.
Confira aqui as jogadas de Brian Lozano.
Apelidado pela imprensa chilena como ‘Novo Valdívia’, o jovem meio-campista de 23 anos também pode ser considerado uma boa opção para a armação. Monitorado no inicio da temporada pelo Atlético Mineiro, o chileno tem como sua principal característica a técnica, a qualidade com a bola nos pés, talvez por isso a semelhança com o saudoso ‘Mago’, que deixa saudade em tantos da torcida palestrina. Aránguiz foi revelado pelo Unión Española, em 2015, e negociado, posteriormente, com o FC Dallas. Após duas temporadas não muito promissoras no clube norte-americano, retornou para o futebol chileno e hoje faz parte do plantel da Universidad de Chile. Além disso, Pablo tem passagens por seleções de base.
Atuando pelo Unión Española, em 2018, o ‘Novo Valdívia’ se destacou na Liga Chilena. Em 13 jogos, marcou 5 gols e deu 5 assistências, números muito interessantes para quem, na época, fazia sua segunda temporada profissional. No ano passado, atuando pelo FC Dallas, Aránguiz não fez jus ao seu apelido: jogou 11 partidas na MSL, mas não participou de nenhum gol da equipe. Na temporada atual, por sua vez, o atleta se apresentou 5 vezes pela Universidad de Chile. Apesar do número baixo de jogos, Aránguiz marcou 4 gols e deu 2 assistências nos poucos jogos em que pôde se apresentar. Também possui cerca de 2,4 dribles/jogo, com 60% de aproveitamento.
Negociado por 1 milhão de euros em 2018 para o futebol americano, se valorizou com suas atuações em 2020. A transferência para o futebol Brasileiro ultrapassaria, ao meu ver, 3 milhões de euros, e dependeria do FC Dallas, time de Thiago Santos, não contar mais com o futebol do jovem, já que contratou há pouco o meia colombiano Andrés Ricaurte. Além, é claro, de Aránguiz desejar jogar no time em que Jorge Valdívia teve seu auge justamente com Luxemburgo.
Confira aqui as jogadas de Pablo Aránguiz.
Eduard Bello, venezuelano do Antofagasta, é um meia-atacante que é destaque da atual liga chilena. Nos últimos 3 anos, foi um dos principais jogadores atuando no país, registrando 19 gols e 11 assistências em 53 jogos, com média de mais de uma participação em gol a cada 2 jogos. Trata-se de um jogador que vem atuando principalmente pelo lado direito em 2020, mas que tem flutuação por todos os lados do campo, podendo ser um organizador.
Bello sabe fazer o passe, dar mobilidade e alternativas à equipe, além de ser um dos artilheiros da equipe nos últimos anos. Sua característica de drible não é tão presente como a dos outros citados, já que conclui menos de 1/jogo, mas destaca-se pela capacidade criativa (2,4 passes para finalização por partida). A questão envolvendo o atleta é que nunca jogou em grandes equipes do futebol sul-americano, já que apareceu no Carabobo FC da Venezuela e nunca disputou uma Copa Libertadores. Por isso, uma eventual negociação seria barata para o orçamento do clube, mas deveria passar por uma análise aprofundada de seu comportamento técnico e mental, para não chegar e ser mais uma opção dentre tantas.
Confira aqui as jogadas de Eduard Bello.
Esse, sem sombra de dúvidas, é o atleta mais conhecido desse texto. Desde 2016 atuando no Brasil pelo Atlético Mineiro, o equatoriano coleciona polêmicas extracampo, fatos que, infelizmente, apagam o bom futebol praticado no clube de minas. Encostado no Galo e com a iminente possibilidade de assinar um pré-contrato com qualquer clube para 2021, o meio-campista também pode ser considerada uma opção para a armação no contexto do mercado sul-americano.
Levando em conta apenas os números no campeonato brasileiro, Cazares participou de 104 jogos, marcando 23 gols e dando 16 assistências, ou seja, a cada 10 jogos, o atleta marca ou dá assistência em 4 deles. Em 23 jogos pela Copa Libertadores, Cazares marcou 8 gols e deu 6 assistências, aumentando sua média para 0,6 participações em gol por jogo. No último Brasileirão, apesar de apenas 1 assistência, criou 10 grandes chances e teve 2,7 passes para finalização/jogo. Além disso, bate bem na bola, tendo boa bola parada.
O que fica de marcante na carreira de Cazares é, de fato, sua postura fora dos gramados. A imprensa e torcida atleticana sempre tecem grandes críticas ao descompromisso do atleta com os objetivos da equipe, o que faz com que o atleta não participe, atualmente, dos planos de Sampaoli no Galo. Sendo assim, para ter o atleta imediatamente, o Palmeiras, com certeza, teria que envolver outros jogadores na negociação, ou até mesmo dinheiro. Caso queiramos esperar pra ver, em 2021 o atleta fica livre no mercado, visto que o Atlético já manifestou que não renovará com o jogador.
Confira aqui as jogadas de Juan Cazares.
Estando a janela internacional fechada até setembro, o Palmeiras tem algumas semanas para avaliar o desempenho irregular de seus meias e buscar alternativas para o setor de criação. Aqui, fizemos nossa parte e sugerimos opções (para todos os gostos) para serem complemento a Gabriel Menino e Patrick de Paula, que possuem diferentes características, e melhorarem o nosso desempenho no meio-campo. Agora é a hora da diretoria e comissão técnica pensarem um pouco além, como já bem fizeram na contratação de Viña, ou lá atrás quando encontraram Mina e Roger Guedes. Por fim, peço que não poupem esforços, buscando tomar as ações necessárias para fazer com que nossos atacantes possam ser municiados com qualidade e possamos ser a linha atacante de raça que esperamos.
Avanti!
Colaboração: Leonardo Lustosa.
Dados: Sofascore e Transfermakt.
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