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A MÃE DE TODAS AS BATALHAS

21/07/2020 | Por REDAÇÃO AMICI

Foto por - Gazeta Press

“Minha senhora, a senhora num sabe o que é um Palmera e Corintia”

Do filme “Boleiros”, de Ugo GiorgettI 

Desde os 80 – eu estava lá e vi – há muita gente tentando ver, querendo ver ou pedindo pra ser aceita na turma dizendo que já viu, em São Paulo, qualquer coisa que houvesse ocupado, no coração da cidade, o lugar que "outrora" pertencera ao Derbi. O Derbi, senhores. Como se o Derbi fosse questão secular, temporal e pertencesse aos homens. Como se não tivesse sido revelado pelo próprio Deus, o Deus de Abraão, Isaac e Jacó – é, aquele Deus belicoso e algo temperamental do Antigo Testamento. Ora, crianças. Não passem vergonha, chega de tolices. O Derbi é a cidade de São Paulo – ele não se deixa conduzir, mas conduz. É inútil todo desejo de forçar a velha aldeia a algo que ela não deseja; e ela escolheu o Derbi, e o Derbi a escolheu. E isso é assim porque nem o Derbi ou sua Cidade foram feitos para os covardes.

Você pode medir a pulsação desta metrópole – poderia até mesmo contar a história dela, ao menos no que realmente conta (coisa que, aliás, um dia, eu mesmo farei) – pelo ritmo da alternância entre Palmeiras e Corinthians e Corinthians e Palmeiras. Quanto mais sincopado ele estiver, mais calor humano a inóspita Piratininga será capaz de produzir. Acreditem-me: São Paulo também é capaz de amar. Vocês já deveriam ter aprendido, inclusive, que ela é capaz de tudo. E tudo cabe no seu jogo, no Jogo da Cidade. O que vale num Corintia e Parmera vale no Centro Velho, no Cambuci, em Itaquera, no Bixiga, no Ipiranga ou até mesmo ali onde nenhum dos dois reina, mas reina o Império da Moda – a Zona Sul Remota, a última fronteira que nos separa do Inominável – que atende, também, por Osasco. 

Se um dos dois vai mal, e vai mal por muito tempo, é sempre possível que algum oportunista, algum janota parasitário se esqueça das regras da casa e comece a sugerir que não, que o Derbi já era e que agora “a grande rivalidade” local se dá entre qualquer um deles e o coadjuvante da vez. Essa publicidade infantil pode vingar por mais ou menos tempo, mas não pode sobreviver ao advento, infalível, das condições – sempre mínimas e humildes – adequadas ao ressurgimento do espírito do Derbi. O Derbi se impõe contra toda vontade de plástico, contra toda ilusão açucarada, contra todo profissionalismo, contra toda modernidade; o Derbi não pode ver o progresso na frente que já lhe cospe na cara, dá-lhe uma cabeçada e, uma vez vendo-o no chão, não hesita: é chute nas costelas. O Derbi é o tributo que a opulência generosa, maternal mesmo de São Paulo paga à tradição pioneira, assassina e corajosa dos Bandeirantes. Ninguém quer saber se você gosta disso ou acha isso bonito ou mesmo direito. É a vida, e nem ela, nem São Paulo e muito menos o Derbi podem ser detidos pelas boas intenções da hora.

Portanto, meus caros, só me resta – se vocês me derem licença – dar-lhes um conselho paulistano, profundamente paulistano e mui autorizadamente paulistano. Hoje é sábado, amanhã domingo – domingo de Derbi. Já feriram demais minha cidade impedindo-a de permitir duas torcidas no Paulo Machado de Carvalho; já tiveram sua chance de falhar, outra vez mais, no aniquilamento do evento que melhor a representa, explica, envolve e orgulha; já fizeram toda propaganda que se pôde contra o futebol, contra o campeonato de futebol mais antigo do país e contra ambos os protagonistas daquilo que não é, nunca foi e jamais será outra coisa que não a Mãe de Todas as Batalhas. Assim, façam-me um favor os que não tiverem estômago para o que vem pela frente: saiam da frente. Amanhã é dia de Derbi. Simplesmente saiam da nossa frente, porque vai passar o Derbi e, no Derbi, não há lugar para a misericórdia.
 

Texto enviado por André Falavigna

AUTOR

REDAÇÃO AMICI

De Palmeirense para palmeirense.

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