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Salvem Gabriel Menino!

31/08/2020 | Por Taylon Moro

Foto por - Reprodução: Cesar Greco

A partida morosa (mais uma) do Palmeiras contra o Bahia de Roger Machado nos atenta para um grito sufocado. O alviverde apresenta um futebol que faz o torcedor encher-se de raiva, de pavor ou de sono. Os resultados fazem a diretoria sair a público para defender uma comissão técnica que faz um trabalho protocolar e cobrar jogadores pela falta de raça. A comissão, por sua vez, culpa o acaso e a falta de malandragem como elementares para a não conquista da vitória de alguns jogos. No meio do ciclo vicioso e pragmático, é sufocado o talento.

Precisamos falar sobre um Menino: Gabriel. O garoto de 19 anos chegou ao Palmeiras em 2017 vindo do Guarani e, desde então, foi multicampeão na base palestrina no sub-17 e no sub-20, chegando a ser convocado inúmeras vezes para as seleções brasileiras de base. É verdade, já foi ressaltado pela mídia que Gabriel é polivalente. Meio-campista de origem, já jogou pela lateral ou como um ponta quando necessário. Porém, vou ser direto. Gabriel não é mais um para tapar buraco, como parece ser metade do elenco atualmente. E, seja por deficiência cognitiva ou por submissão aos medalhões, Luxemburgo parece querer matar o futebol do atleta pouco a pouco escalando-o em uma função que o limita, justamente para manter pesos mortos improdutivos dentro de campo.

Pensemos por um momento.  Vou usar narrativa similar a do último texto. Em uma empresa P o estagiário G vem se destacando e é promovido, recebendo carteira assinada e seu primeiro contrato da carreira. Por ser recém-formado, com bom histórico na faculdade e grande potencial no mercado, faz as tarefas atribuídas a ele com talento. Porém, G e seu colega PK tem alguns problemas no escritório pois tem que trabalhar com velhos funcionários da empresa que, apesar de receberem altos salários, chegam atrasados nas reuniões e não entregam os relatórios precisos, sobrando para os jovens fazer o trabalho sujo e consertar os erros.

Porém, pela relação de amizade construída ao longo do tempo e por um receio irracional, é muito mais fácil para o chefe cobrar os dois garotos que qualquer um dos funcionários incompetentes, já que acabaram de chegar à empresa e estão “no lucro” por ter a oportunidade de trabalhar nela. Assim é o Palmeiras de Vanderlei Luxemburgo. O histórico palmeirense de desprezar a base, com vendas precoces e falta de oportunidade no time principal, parece estimular comissão técnica e diretoria a justificarem que Patrick de Paula e, principalmente, Gabriel Menino, podem ir a campo simplesmente por ir ou, ainda, para realizarem uma função tática para a coesão da equipe. Se estiverem um pouco abaixo, o que é normal pela irregularidade ao subir para o profissional em uma equipe bagunçada, é muito mais fácil tirar um dos dois do que qualquer dos detentores dos altos salários.

Acontece que o Palmeiras em 2020 é antagonista à palavra coesão. A convicção tática, por si, também é inexistente, já que parece se pautar no acaso e na malandragem (termo usado por Vanderlei na última coletiva). A disfunção do time em campo, com resultados enganosos, desempenho pobre e performances asquerosas, pode fazer parecer que Gabriel é apenas mais um atleta. Aquele menino que é colocado em campo, agradece a oportunidade e se der certo, continua cumprindo a função limitada designada. Se não der, é substituído por um medalhão que, em um lapso, pode criar alguma jogada e tomar o seu lugar.

As críticas que devem ser feitas ao trabalho de um treinador não devem passar necessariamente por rótulos referentes à nacionalidade ou ao fato de ser “ultrapassado”, mas sim pela forma como enxerga as ideias de jogo e como coloca em prático a partir de seu elenco. O Luxemburgo de 25 anos atrás que potencializou craques como Rivaldo, Djalminha, Rincón, Mazinho e Alex no meio campo parece estar oculto na Barra Funda de 2020. E, diante dessa sombra do passado que insistiu em se materializar novamente por decisão sem sentido futebolístico de Maurício Galiotte, não podemos fazer com que um de nossos maiores talentos se perca fazendo algo que não é sua característica do jogo.

No momento, a maior carência do Palmeiras é de um meio-campo criativo, como já alertado em outros artigos. Um meio-campo que saiba reter a bola, quando preciso, e fazê-la circular com qualidade entre os setores, mas também que tenha passes que levem a equipe a frente e saiba pressionar com intensidade em vários momentos do jogo. Os jogadores do elenco atual que demonstraram isso na temporada foram justamente Patrick de Paula e Gabriel Menino (e em poucas vezes Zé Rafael e Lucas Lima), jogando por dentro.

Façamos um exercício de lembrança. Um dos meio-campistas mais talentosos do Brasil hoje, Bruno Guimarães, muitas vezes foi subutilizado e, assim prejudicado, jogando em 2018 com Fernando Diniz no Furacão. Naquele momento, Diniz enxergava Bruno como um zagueiro pela esquerda, pela qualidade de saída de bola e boa altura para defesa aérea. Por sorte do atleta, Diniz logo caiu e Guimarães pôde voltar a função de meio-campo, pegando na bola em todas as partes do campo e capaz de influenciar no jogo de sua equipe a todo momento.

Assim, a qualidade de Gabriel Menino para recompor e ter boa marcação não pode justificar com que seu jogo fique limitado pelo lado e, ainda mais, pelo lado direito. Ali Gabriel, por natureza, fica limitado a ir pela linha de fundo, em velocidade para superar a marcação adversária, e fazer o cruzamento, Além disso, raramente algum meia, atacante ou lateral se aproxima para formar jogadas por ali. Se precisar chutar ao gol, precisa puxar para a perna esquerda (que é boa por sinal). Em palavras simples, joga torto e fica encaixotado.

Os números mostram como seu jogo associativo, sempre participando das jogadas, é prejudicado nos últimos 3 jogos. Veja:

Vs Bahia: 29 passes (90% de aproveitamento), 2 passes decisivos;

Vs Santos: apenas 10 passes (66% de aproveitamento);

Vs Athletico Paranense: 18 passes (72% de aproveitamento), 1 passe decisivo;

Mapa de calor de Gabriel Menino nos primeiros jogos do Brasileiro.

  • (Veja que recebe a bola colado na linha lateral na maioria das vezes, e é obrigado a ir para a linha de fundo cruzar ou cortar para o pé esquerdo).
  • Tentei buscar lances que pudessem comprovar isso nos últimos jogos, mas a falta de melhores-momentos que mostram a situação reforçam o argumento de que o Palmeiras é um cemitério de jogo, principalmente por essa escolha errada no lado direito.

Enquanto isso, no meio campo, Bruno Henrique, Ramires ou até Zé Rafael ocupam um dos postos que deveria ser dele, sem que ofereçam ou agreguem muito para a equipe oferecendo soluções criativas no ataque e marcando com intensidade. Gabriel foi destaque na base pela sua capacidade de sair das pressões do adversário com passes verticais, encontrando os atacantes, e pela visão de jogo apurada. Suas melhores partidas neste ano, desde a Florida Cup, mostraram que pode fazer a diferença e ajudar nosso meia-atacante a criar mais jogo, justamente por dentro, podendo ser o arco que flechas como Rony e Luiz Adriano precisam para finalizar.

Gabriel Menino tem 19 anos e possui atributos diferenciados para sua idade e para a maioria dos jogadores da posição. É claro que ainda precisa amadurecer em alguns quesitos, como qualquer outro jovem. Porém, o apelo que se faz e que deve ser a premissa inicial de qualquer consideração sobre ele é que deve jogar e ganhar confiança na posição de meio-campo, com liberdade para flutuar por todas as zonas do jogo. Não podemos ficar limitados ao acaso e a uma preocupação descabida a frear os pontos fortes do adversário queimando o talento de um jogador como este, enquanto múmias permanecem intocáveis em funções que não rendem há meses. O Palmeiras pode muito mais e consegue ir longe se mudanças pontuais forem realizadas, a começar pelo aproveitamento dos jovens e por uma definição de sistema de jogo, sem se ater a alegações descabidas e contentamentos vazios, já que temos uma boa base de elenco e jogadores com potencial para renderem mais.

Salvem Gabriel Menino.

AUTOR

Taylon Moro

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Comentários:

El Cucuy
Perfeita análise, o Luxa escala o Gabriel Menino aberto pra poder colocar em campo o patético Bruno Henrique. BH é preguiçoso, não marca ninguém, só toca bola pra trás. Em suma, PK e GM estão literalmente carregando nas costas o fraco Bruno Henrique
Rodrigo M
Acorda Luxemburgo, escala certo pra aproveitar o futebol dele..
João R
Excelente!
Vanderlei Luxemburgo
Apaga essa porra aí, baralho! Respeita o pojeto, ta xetu!
João Robiatti
Concordo plenamente com o comentário, Sr Wanderlei coloca o Gabriel Menino no lugar do Lucas Lima, com a mesma insistência que vc vai ver esse meio campo funcionar
Charles Antunes
Cirúrgico
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